Por Rosangela
Dias
A
jornalista Sandra Annemberg, da Rede Globo de Televisão, enviou a seus
teleouvintes como mensagem de final de ano “Que 2012 seja muito, mas muito
elegante!” Eu, particularmente, considero Réveillon uma festa de mentirinha.
Até porque as guinadas e mudanças que fazemos na vida dificilmente acontecem
neste período. Final de ano tudo fica parado, exceto o comércio, aeroportos,
rodoviárias, isto é, o trânsito, seja de gente ou de mercadorias. Todos se
locomovendo, mas pouco ou nada se modificando realmente. Entretanto, achei
interessante este desejo de um Ano Novo elegante. E comecei a pensar que o
sucesso ainda grande de livros e da escrita deve-se ao fato de que o texto pode
ser bem mais elegante que a fala. Quando alguém numa conversa diz alguma
besteira e nós ouvimos, corremos o risco de corrigirmos a pessoa de imediato e
de forma violenta, situação nada elegante. Mas se recebemos um e-mail repleto
de asneiras, podemos ser elegantes e não sairmos detonando o autor do texto. É
claro que enviar e-mails desaforados não é nada elegante, mas convenhamos que a
palavra nos dá a possibilidade de sermos sensatos e polidos, de refletir e
respirar fundo antes de cometermos algum impropério utilizando o verbo. Por
isso é bom ser editora. Fazer livros permite divulgar e difundir elegância. Um
livro de Jorge Amado, mesmo com palavrões e escrito fugindo à norma culta é
carregado de elegância. Proust, elegantíssimo; Orhan Pamuk, minha atual quase
obsessão, é escritor maravilhoso e crítico elegantérrimo do olhar ocidentalizado
e preconceituoso do ocidente sobre o oriente. Por isso minha tristeza ao ler a
reportagem feita pelo jornalista da revista Época
Murilo Ramos, mostrando a deselegância da editora portuguesa LeYa. Murilo
“desconfia” de ter havido troca de favores entre o Senado Nacional, mais
precisamente entre o presidente do mesmo, José Sarney (ou Sir Ney), e a LeYa. A
editora portuguesa relançou a obra de Otto Maria Carpeaux (1900/1978), História da literatura ocidental, em 4
volumes. Até aí nada demais, entretanto a publicação da LeYa reproduz o projeto
gráfico do livro publicado pelo Senado em 2008, financiado pelo povo
brasileiro. A publicação da LeYa será vendida por R$ 179,00. Mas o que intriga
o jornalista e o deixa, não só ele, mas todos nós, “com a pulga atrás da
orelha”, é que a editora LeYa também publicou a biografia de José Sarney.
Simples coincidência?
Em
resumo, apesar da preponderância da palavra escrita sobre a falada no quesito
elegância, às vezes a deselegância pode ser imensa. Que as editoras, todas elas,
sejam também muito, muito elegantes não só em 2012, mas em 2013, 2014, 2015...
Link
para Uma história da esperteza editorial (revista Época)