Por Christiane Angelotti
Tudo bem, devo admitir que ando
numa fase super crítica com relação ao mundo literário. Talvez por sempre ter
tido uma visão romanceada da vida e por consequência, da literatura. Agora,
trabalhando mais, estudando e totalmente envolvida com literatura, vejo que
romance não passa de um gênero literário e que no “mundo real”, fora dos
livros, o que mais me deixa comovida é a coragem e persistência dos autores de
talento que ainda não conquistaram seu “lugar ao sol”. E são muitos.
Bom, mas quero aproveitar o meu
espaço e propor uma outra reflexão, sobre os personagens marcantes. Aquela
espécie de mágica que acontece quando um autor cria um personagem e ele parece
saltar do papel e ganhar vida. Essa empatia entre personagem e leitor, que
muitas vezes é construída intencionalmente e acaba dando certo e outras vezes,
mesmo sendo construído para ser assim acaba não tendo o resultado desejado.
Criar um personagem inesquecível
é o sonho de todo autor. Muitas vezes, o autor ao construir seu personagem,
confere atributos e características ao mesmo sem saber se darão certo, mas o
faz por uma espécie de feeling. Em
outros momentos, o autor estuda dentro da sua história elementos que possam
humanizar seu personagem. Para esse fim, livros como “Jornada de um Herói” de
Joseph Campbell, são maravilhosos. Aliás, é um livro que recomendo muito para
todos os escritores. Campbell realizou estudos comparativos entre lendas e
mitos universais e identificou padrões narrativos comuns entre os mesmos. Mas
não se engane quem quiser uma receita, é um livro para estudar, analisar e
refletir. Receita para escrever um bom livro, para se construir um personagem
de sucesso? Se houvesse mesmo, quem se dedica a escrever sobre tais reflexões
inventaria logo um personagem inesquecível, lucraria muito mais.
Acredito que personagens
inesquecíveis são aqueles que tocam o coração do leitor. Talvez por serem
produzidos num momento de profunda verdade do autor. Aquele momento em que o
autor acredita tanto em seu personagem que lhe confere uma “alma”.
Conferir atributos comuns ao ser
humano, com toques de coragem e heroísmo? Fazer com que o personagem seja
aquilo que gostaríamos de ser? Não sei se há realmente uma receita, além da
verdade do autor com relação ao personagem e um certo emprestar sua própria
alma ao mesmo.
Sinto falta na literatura
contemporânea de personagens assim, inesquecíveis. Como a Emília de Lobato, Dom
Quixote de Cervantes, Diadorim de Guimarães Rosa, Dom Casmurro de Machado,
entre tantos outros. Para o número de obras publicadas atualmente, personagens
assim são cada vez mais raros, isso é algo a ser pensado.
Estamos naquela época em que a
Editora busca fazer seus autores mais conhecidos que a sua própria obra. Um
autor se torna famoso e vira uma marca e comercializa-se em torno dele. Egos
sendo alimentados, leitores idolatrando o autor e dinheiro na conta, da
Editora, do autor (este último não é nada mal, mas não gosto dos meios).
Enfim, quero fazer a minha Belle Époque essa em que nós vivemos,
espero conseguir viver de escrever, literalmente.
Texto publicado originalmente na
edição de Novembro/2011 no Jornal Sobrecapa
Literal
(www.sobrecapaliteral.com.br)
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Christiane Angelotti é escritora e editora do site educativo ABC KIDS
(http//:www.abckids.com.br)
(www.sobrecapaliteral.com.br)
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