Por Marina Moura
[Conheci um rapaz que, por ocasião de estar morando em
Nova York, conheceu uma moça coreana e a seguiu até a Coreia do Sul. Eles mal
começaram e terminaram a não relação num festival coreano de música
alternativa. Na hora da despedida, tocava uma banda japonesa de metal.
Conheci um rapaz de 32 anos que frequenta festas de gente
que em média não passa dos 25. Ele foi a todos os festivais de música
alternativa que valem a pena. Ele já viu shows que jamais verei, sei disso.
Pois esse mesmo rapaz andou de balão na Turquia. Gostei muito desse rapaz na
hora precisa em que ele disse algo como “andei de balão na Turquia e tenho um
apartamento que não divido com absolutamente ninguém”. Posso imaginar as cores
neutras de seu apartamento, a figura daquele homem sóbrio em seu apartamento
inabitado e neutro.]
Conheci um rapaz qualquer quando eu tinha apenas 17 anos.
Conheci-o em uma rua qualquer do Recife Antigo (quando moramos há muito tempo
no mesmo lugar, não sabemos mais diferenciar ruas paralelas entre si, no máximo
dizemos “esta é a rua da Padaria Qualquer Coisa”). Era um rapaz bonito, lembro
bem, embora usasse um par de tênis que só conseguia ser sujo. Não era quase
nada, nunca tinha ido à Europa, mal saíra do Nordeste. Pois me apaixonei
perdidamente pelos seus sapatos sujos, me apaixonei perdidamente pela sua
crueza em termos de vivência. Me apaixonei por mim, alguém diria. Mas não sei
direito o que o levou embora – “a vida”, o que absolutamente não explica algo.
Eis que três anos depois o rapaz me volta com tênis bonitos, ele foi morar na
zona sul do Rio de Janeiro, ele agora é cool, dá um pulo em São Paulo quando
bate o tédio. Eu me apaixonei perdidamente e mais uma vez por esse rapaz. E não
saberia dizer os motivos, mas arrisco: porque continuo ilhada no Recife, que é
tão bonito mas é como um namorado de muitos anos que já não tem mais tanta
graça; porque eu, que me aceitei como mulher raiz, casa, escritório, quitinetes
vazias, viagens de carro e jamais à Europa, eu, essa mulher que sou e que há
tempos planejo ser, quero ir embora daqui; porque me descobri encantada por um
homem viajante, suas viagens e sua vontade de ir e seus planos me invadiram
como se eu sempre tivesse sido a mulher que jamais imaginaria que fosse. Não
saberia dizer os motivos: o Recife é belíssimo, tenho tantas pessoas no bairro,
o Natal de todos os anos é aqui, nunca estive de mudança para outro lugar. E me
pergunto, mas quais são os motivos? E me obrigo a encontrar resposta
satisfatória, me arranco os cabelos metaforicamente, me embalo no rock de Rita
Lee. É certo como o amanhecer prestes a despontar aqui no Recife: Eu me
apaixonei perdidamente por um homem viajante. Eu quero ir embora para segui-lo,
e agora me aflige a dúvida: Virei uma mulher viajante?
Marina Moura é
estudante de Letras, revisora e canhota.