1. Como chegou a este tema abordado em Tradição liberal e política externa nos
Estados Unidos?
Meu fascínio pela história e política
externa dos Estados Unidos vem desde a minha juventude. Acho que a experiência
dos anos 1990, um período de triunfalismo dos EUA no mundo após o fim da Guerra
Fria, me deixou essa marca. Quando comecei meus estudos em Relações Internacionais,
me aproximei cada vez mais do tema. Queria entender como um país com duzentos e
poucos anos de história tinha se tornado a maior potência já vista na face da
Terra. E conforme fui conhecendo a literatura sobre história e política externa
dos EUA, uma coisa me chamou a atenção: a maneira pela qual eles celebram o seu
excepcionalismo, a sua singularidade. É claro que para um observador de fora,
não há nada de especial na história do país. Existem particularidades, como no
desenvolvimento de qualquer estado, mas nada que os tornem superiores da
maneira como acreditam. E foi assim que eu cheguei no tema da “tradição liberal”
para entender o pensamento sobre política externa e a projeção do país no
mundo. Para além da retórica, realmente existe um conjunto de princípios e
valores que pautam as reflexões do país sobre o mundo ao seu redor.
2. Conte-nos um pouco da sua trajetória
profissional, e de que forma o mestrado e, também, o doutorado, influenciaram e
influenciam na sua carreira.
Bom, o livro é um produto direto da minha
dissertação de mestrado. A partir daí, continuei meus estudos sobre política
doméstica e política externa nos EUA. Acho que esse é um diferencial que venho
acumulando ao longo dessa curta trajetória: não dá para entender a projeção dos
EUA no mundo sem entender as dinâmicas da sua política doméstica, e pouca gente
se dá conta ou consegue articular isso. Meu doutorado caminhou nesse sentido,
assim como o trabalho que eu desenvolvo junto ao Instituto Nacional de Ciência
e Tecnologia para Estudos sobre Estados Unidos (INCT-INEU).
3. Quais as dificuldades maiores para a
pesquisa? E que pesquisa faz atualmente?
A maior dificuldade é sempre o acesso às
fontes. Inicialmente, a pesquisa seria sobre o processo de formulação de
política externa, mas tive que adaptá-la para trabalhar com as reflexões, ou o
que se produz a respeito da política externa do país. Atualmente, tenho
trabalhado com temas mais contemporâneos, como o posicionamento dos EUA frente às
transformações da ordem internacional e suas estratégias para lidar com países
como os do BRICS. Mas gostaria de ressaltar também o trabalho da equipe do Observatório
Político dos Estados Unidos (OPEU - www.opeu.org.br),
da qual faço parte, que faz um acompanhamento constante da política doméstica e
política externa do país, tentando manter informado o público brasileiro
interessado na área.
4. Qual interesse maior em publicar o
livro? Quais as expectativas?
O interesse é sempre de divulgar o trabalho
e gerar mais debate, mais pesquisa e mais estudos de qualidade na área. Uma
expectativa é que o texto possa ser usado por outros professores de Relações
Internacionais no país. O livro traz uma discussão interessante sobre a criação
e o fortalecimento da disciplina dos EUA nos anos de 1950. O curioso é que os
mesmos autores que escreviam sobre política externa dos EUA no começo da Guerra
Fria são as pessoas que ergueram a área de estudos das Relações Internacionais.
Acho que essa discussão é saudável para entender o papel da disciplina na sua
formação e como nós devemos encarar suas teorias, conceitos e autores
fundadores a partir do Brasil.
5. Alguma coisa que queira acrescentar?