No
romance, o narrador é “dono” da história. Se é verdade, como disse Roland
Barthes, que “toda autobiografia é ficção, toda ficção é autobiográfica”,
a fronteira entre o que é memória e o que é fantasia se perde e quem narra a
história de tal forma se enreda neste limite que a partir de certo momento não
saberá dizer onde começa um e acaba o outro, os caminhos vão se
definindo ora pendendo para a imaginação, ora para a concretude dos fatos.
Em Por enquanto agora, tudo que está
ali está guardado porque ouvido, vivido, visto, ou imaginado. A partir de um
fato, ou de uma lembrança, a ficção se faz. Sou formada em jornalismo e
posso distinguir com clareza a linguagem do repórter (que deve se ater aos
fatos) e a do ficcionista, que ilumina e reinventa o real... Bem, este é meu
livro de estreia e não sei muito teorizar como as coisas se deram, é por aí...
2) Conte-nos um pouco sobre o seu processo de
criação.
Como um
furacão! Não saberia dizer se é meu “processo de criação”, se será sempre
assim, mas foi uma tormenta: eu tinha que escrever aquilo, daquela maneira... O
livro está quase pronto, o lançamento previsto para setembro [marcado dia
10.09]*, eu o releio e me assuto: reconheço no texto uma coragem maior do que
encontro em mim... temo a reação dos leitores, me sinto nua e vulnerável, a
exposição me apavora. Enfim, o processo de criação foi vomitar o de
dentro, e trabalhar este material com palavras. Pura catarse! O que isto não
quer dizer que foi fácil, ao contrário, foi um sofrimento. Sou apaixonada por
palavras, busco a mais clara, a que mais “fala” do que eu quero dizer e por
vezes substituí a usada, nove, dez vezes. Tirei e acrescentei. Mudei e voltei à
versão anterior. Dormia mal e voltei a fazer terapia. Não foi um exercício
leve, de prazer.
* Ver
convite neste LINK
3) Quais as suas influências literárias? Que
autores a inspiram? E quais os seus livros preferidos?
Sou
leitora voraz desde que me entendo por gente. Aprender a ler foi e é até hoje,
sem contar o nascimento de meus filhos, a mais bela descoberta de minha vida.
Li tudo que me caía às mãos, desde a Coleção Menina e Moça e Monteiro Lobato e
de Arséne Lupin a Shakespeare, Proust, Joyce, Hemingway, Garcia Marques, Simone
de Beauvoir, Sartre, Faulkner, uma salada. E, como, simultânea à liberdade de
ler o que quisesse recebi uma educação rígida, católica, quase puritana, muitas
vezes não entendia quase nada. Foi assim. Gostaria de escrever como Clarice.
Gostaria de escrever como Scott Fitzgerald. Gostaria de escrever como Guimarães
Rosa, por sua paixão pela palavra. Gostaria de escrever como Drummond. Como... como...
um Proust. Gostaria de escrever melhor e mais depressa, de produzir mais...
4) Qual será o seu próximo projeto? Já
começou a trabalhá-lo?
Tenho
alguns contos escritos: um foi selecionado para publicação na antologia Sábado na Estação, também pela
Ed. Apicuri. Nosso professor, Luiz Ruffato (da Oficina de Texto, na Estação das
Letras), gostou de um e o indicou para eventual publicação no jornal paranaense
Rascunho. Vou escrevendo, quando
tiver 12 contos prontos, publico. No momento, estou bem cansada, nunca imaginei
tão desgastante em termos emocionais o processo de finalizar um livro e
prepará-lo para edição. Sinto-me sem leveza para começar coisa nova, quero me
livrar do Por enquanto agora. Só
depois abro espaço para outra obra, sejam contos, seja um novo romance.