quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Entrevista com Maria Christina Monteiro de Castro, autora do romance 'Por enquanto agora'

1) Como você definiria este seu livro, ficção memorialista ou memória inventada?

No romance, o narrador é “dono” da história. Se é verdade, como disse Roland Barthes, que “toda autobiografia é ficção, toda ficção é autobiográfica”, a fronteira entre o que é memória e o que é fantasia se perde e quem narra a história de tal forma se enreda neste limite que a partir de certo momento não saberá dizer onde começa um e acaba o outro, os caminhos vão se definindo ora pendendo para a imaginação, ora para a concretude dos fatos. Em Por enquanto agora, tudo que está ali está guardado porque ouvido, vivido, visto, ou imaginado. A partir de um fato, ou de uma lembrança, a ficção se faz. Sou formada em jornalismo e  posso distinguir com clareza a linguagem do repórter (que deve se ater aos fatos) e a do ficcionista, que ilumina e reinventa o real... Bem, este é meu livro de estreia e não sei muito teorizar como as coisas se deram, é por aí...

2) Conte-nos um pouco sobre o seu processo de criação.

Como um furacão! Não saberia dizer se é meu “processo de criação”, se será sempre assim, mas foi uma tormenta: eu tinha que escrever aquilo, daquela maneira... O livro está quase pronto, o lançamento  previsto para setembro [marcado dia 10.09]*, eu o releio e me assuto: reconheço no texto uma coragem maior do que encontro em mim... temo a reação dos leitores, me sinto nua e vulnerável, a exposição me apavora. Enfim, o processo de criação foi vomitar o de dentro, e trabalhar este material com palavras. Pura catarse! O que isto não quer dizer que foi fácil, ao contrário, foi um sofrimento. Sou apaixonada por palavras, busco a mais clara, a que mais “fala” do que eu quero dizer e por vezes substituí a usada, nove, dez vezes. Tirei e acrescentei. Mudei e voltei à versão anterior. Dormia mal e voltei a fazer terapia. Não foi um exercício leve, de prazer.

* Ver convite neste LINK

3) Quais as suas influências literárias? Que autores a inspiram? E quais os seus livros preferidos?

Sou leitora voraz desde que me entendo por gente. Aprender a ler foi e é até hoje, sem contar o nascimento de meus filhos, a mais bela descoberta de minha vida. Li tudo que me caía às mãos, desde a Coleção Menina e Moça e Monteiro Lobato e de Arséne Lupin a Shakespeare, Proust, Joyce, Hemingway, Garcia Marques, Simone de Beauvoir, Sartre, Faulkner, uma salada. E, como, simultânea à liberdade de ler o que quisesse recebi uma educação rígida, católica, quase puritana, muitas vezes não entendia quase nada. Foi assim. Gostaria de escrever como Clarice. Gostaria de escrever como Scott Fitzgerald. Gostaria de escrever como Guimarães Rosa, por sua paixão pela palavra. Gostaria de escrever como Drummond. Como... como... um Proust. Gostaria de escrever melhor e mais depressa, de produzir mais...

4) Qual será o seu próximo projeto? Já começou a trabalhá-lo?

Tenho alguns contos escritos: um foi selecionado para publicação na antologia Sábado na Estação, também pela Ed. Apicuri. Nosso professor, Luiz Ruffato (da Oficina de Texto, na Estação das Letras), gostou de um e o indicou para eventual publicação no jornal paranaense Rascunho. Vou escrevendo, quando tiver 12 contos prontos, publico. No momento, estou bem cansada, nunca imaginei tão desgastante em termos emocionais o processo de finalizar um livro e prepará-lo para edição. Sinto-me sem leveza para começar coisa nova, quero me livrar do Por enquanto agora. Só depois abro espaço para outra obra, sejam contos, seja um novo romance.