Por Daiana Gualberto
Depois de meses distante ela voltou para casa. Abriu a porta
e nem pediu licença para entrar, tomou sem pudor o meu lugar e desdenhou da
maneira como eu conduzia o meu lar.
Esvaziou o meu armário, desfez as suas malas povoando as
minhas ambições com infelizes penduricários de insatisfação. Obrigou-me a
acatar o desdém pela vida e criar uma pasta cheia de feridas para que eu
pudesse chorar. Levou-me até o espelho do banheiro para encarar os meus olhos
vermelhos e lamentar com mais fervor a minha triste sorte.
Tentou me controlar, teimei e, então, ela resolveu me
atacar. Aprisionou a minha alma em uma cela. A minha carne ela botou para
assar, o cérebro ela pôs no liquidificador e é por isso que perdida estou.
Congelou-me o coração, a temperatura do meu corpo caiu, mas inexplicavelmente
minha pressão subiu. O medo fazia-me imaginar eventos bizarros.
Tentei me concentrar em uma solução para escapar dali. Foi
então que possuindo um bloco de papel e uma caneta velha, resolvi criar um
portal para fugir daquela solidão e recuperar a razão. Através de palavras e
libertação dei asas à minha vocação e escrevi. Escrevi sobre mim, sobre ela e
sobre o mundo. Compreendi um pouco mais a minha aflição; libertei-me, então, da
condição de prisioneira no meu próprio lar. Por fim, havia recuperado o domínio
dos meus sentimentos e afastado a estranha chamada Depressão.
Daiana Gualberto
é uma jovem escritora que há alguns anos divulga seus textos em Insight, Delírios e Lembranças
(http://indelirios.blogspot.com). Nascida em 15 de outubro de 1991, em Óbidos,
no Pará, começou a desenvolver sua escrita literária aos 13 anos de idade. Mora
em Manaus e está escrevendo seu primeiro romance.