segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Estranha


Por Daiana Gualberto

Depois de meses distante ela voltou para casa. Abriu a porta e nem pediu licença para entrar, tomou sem pudor o meu lugar e desdenhou da maneira como eu conduzia o meu lar.

Esvaziou o meu armário, desfez as suas malas povoando as minhas ambições com infelizes penduricários de insatisfação. Obrigou-me a acatar o desdém pela vida e criar uma pasta cheia de feridas para que eu pudesse chorar. Levou-me até o espelho do banheiro para encarar os meus olhos vermelhos e lamentar com mais fervor a minha triste sorte.

Tentou me controlar, teimei e, então, ela resolveu me atacar. Aprisionou a minha alma em uma cela. A minha carne ela botou para assar, o cérebro ela pôs no liquidificador e é por isso que perdida estou. Congelou-me o coração, a temperatura do meu corpo caiu, mas inexplicavelmente minha pressão subiu. O medo fazia-me imaginar eventos bizarros.

Tentei me concentrar em uma solução para escapar dali. Foi então que possuindo um bloco de papel e uma caneta velha, resolvi criar um portal para fugir daquela solidão e recuperar a razão. Através de palavras e libertação dei asas à minha vocação e escrevi. Escrevi sobre mim, sobre ela e sobre o mundo. Compreendi um pouco mais a minha aflição; libertei-me, então, da condição de prisioneira no meu próprio lar. Por fim, havia recuperado o domínio dos meus sentimentos e afastado a estranha chamada Depressão.

Daiana Gualberto é uma jovem escritora que há alguns anos divulga seus textos em Insight, Delírios e Lembranças (http://indelirios.blogspot.com). Nascida em 15 de outubro de 1991, em Óbidos, no Pará, começou a desenvolver sua escrita literária aos 13 anos de idade. Mora em Manaus e está escrevendo seu primeiro romance.