Por Daniella Gandra
Rico
digitava sua tese de final de curso para comprovar o que já não era mais
novidade para ele: as palavras expressas pela escrita, seja com a finalidade de
trabalho ou por simples prazer, são sempre sobras da essência do ato de se escrever.
Nunca são completas, mas gerais, como em um resumo, onde somente o referencial,
comum a todos que lerão tal obra possa ser capaz de ser depreendido. Pois quase
sempre a maioria que tem por hábito a leitura, e muitas vezes, o próprio autor
costumam enquadrar as muitas observações, as muitas entrelinhas em um único e
amplo sentido, dando margem a outras significações. Estas serão percebidas a
partir do modo como o leitor encara a vida, e tudo o que a rodeia e o afeta.
Rico
estava cansado, mas continuava incessantemente sua colaboração com o meio
acadêmico, uma vez que sua tese seria publicada em periódicos da faculdade.
Não
se sentia orgulhoso, tampouco ansioso por vê-la sendo lida e conhecida por
algumas pessoas que lhe tinham ganhado o respeito. Mas se sentia desonesto,
quase um leviano por não conseguir escrever dentro de suas intenções, e provar
para todos que suas palavras habitavam espaços além daquele no qual estariam
expressas por escrito.
Isso
corroía seus pensamentos criativos; então, a cada dois minutos, chupava uma
bala de café, ou caminhava pela sua sala, girando em torno da mesa onde se
alocava o seu laptop, a sua engenharia que parecia imóvel quando a olhava de pé
e, ao mesmo tempo, em pleno movimento, com nuances, quando a fazia ter algum
sentido.
Para
Rico, as palavras eram exatamente como o seu computador. Ficavam ali, em sua mente, aguardando
possíveis usos, na espera de serem aproveitadas. Mas ele tinha consciência de
que a totalidade da sua ação de escrevê-las, mesmo que as encaixando com outras
tantas, a fim de provocar maior convencimento de suas ideias ou embelezá-las
simplesmente, não seriam suficientes para preencher os vazios seguidos de
pontos, de vírgulas e eteceteras.
Chateava-se
profundamente com essa falta de manejo que elas lhe cometiam, e que não o
deixava encontrar formas de trazer à tona seus segredos.
Continuava
quase que mecanicamente a escrevê-las, e pensava que por ser rico, talvez, elas
se viam desnecessárias em suas empreitadas...
Daniella Gandra
é professora e revisora de textos de língua portuguesa.
Escreve no coletivo http://www.tribunaescrita.blogspot.com
Escreve no coletivo http://www.tribunaescrita.blogspot.com