Por Carolina Silvestrini
O início é a
construção do céu, depois um agitar qualquer de asas; uma cidade, um país. A
restituição de membros e pensamentos àquele que ainda não é senão um esboço de
homem até que se torne inteiro – por fim, aplicamos a ele uma palpitação:
deixamos que vá.
Observamos
com olhos clínicos o homem criado, sem impor a ele limites ou bordas.
Entregamos a cidade e o acaso, analisando como se comporta, anotando tudo. Não
temos controle sobre a envergadura de suas asas – nem queremos. O que ele fará
no universo recém-criado e ainda úmido que lhe demos é precisamente o que deve
ser feito; suas decisões, já tão longe de nossas mãos, serão apenas suas, e o
papel que ele desempenhar será o que lhe convier, o que lhe fizer sentido e
estiver de perfeito acordo entre suas cinco cabeças tristes, seus tantos braços
inquietos.
Carolina
Silvestrini: pintura abstrata
na sala de espera, formada em Cinema pela FAAP. Publicou nas antologias Expresso
600 (Ed. Andross) e Em busca da sabedoria (org. Arnaldo Giraldo),
tendo participado também da edição 12 da Revista Offline. Atualmente
escreve seu primeiro romance, Estudo de um pássaro. Adepta da literatura
subaquática, bloga em O Peixe Solúvel.