Por Cláudio B. Carlos
Grandes verdades são ditas nas esquinas por aparentes
imbecis. O óbvio é aplaudido como se fosse grande descoberta.
Objetos-voadores-não-identificados são vistos em toda parte. E o engodo
continua nos discursos politiqueiros: “O povo que elege também destitui.” Os
tons esmaecidos/vibratórios da TV ligada sem voz iluminam minha sala de
“bem-estar” onde estou sentado com as luzes apagadas. Imagens em close de um
beijo de língua. Cenas de uma novela dum canal que não sei qual é. Lembro de um
amigo que me disse, certa vez, que não sei quem havia lhe dito, e que tinha
lido não sei onde: “Escreva sua própria novela ou passe a vida assistindo a
novelas alheias.” Os tons esmaecidos/vibratórios da TV ligada sem voz iluminam
a mesinha onde descansa aberto o livro que estou ou estava lendo...
Estatísticas mostram que a maioria dos suicídios ocorre em banheiros. Um livro
aberto é uma vida exposta, com seus encantos, seus podres, histórias e
segredos. Um livro aberto é um perigo! Então – penso eu –, é pouco provável que
tudo acabe aqui, agora. Sorte ou azar. Salvação ou castigo. Uma bala solitária.
Giro o tambor. Encosto o cano do revólver em minha têmpora direita. Vou brincar
de roleta russa. Puxo o gatilho...
(Do livro O círculo)
Cláudio B. Carlos
(CC) é poeta e prosador, nascido em 22 de janeiro de 1971, em São Sepé, RS.
Publica experimentos poéticos em áudio e vídeo na internet. Tem diversos livros
publicados. Coordena o Grupo de Escritores O
Bodoque. É editor do Coletivo Literário Dona
Zica tá braba (http://donazicatabraba.wordpress.com).
Vive em Belo Horizonte, MG.