Por Mariane Lobo
Pois que podia ter me atirado
pela janela e não faria diferença alguma.
Ah, não, talvez sim. Pobres dos
que teriam de limpar o chão da rua que eu, deslaixadamente, permitiria sujar
com meu próprio sangue.
Vamos deixas essas ideias pra lá.
O que tenho a minha frente agora,
além desta janela, é uma máquina de escrever sobre uma mesinha antiquada e de
gosto um tanto duvidoso. O papel permanece em branco, e é esse o motivo pelo
qual desejo a trágica morte do início do texto.
Parar de escrever é parar de
respirar. Faz os sentimentos mais íntimos se agitarem dentro de nós, pedindo
pra sair. Mas essas palavras, caprichosas, às vezes não colaboram muito e,
assim, muitas vezes resolvem que não vão trabalhar.
Disparar frases ao acaso só piora
a situação. Aumenta a angústia, o medo, sim, aquele medo familiar de “Meu Deus,
será que nunca mais conseguirei escrever algo?”
Soa meio dramático, mas posso
apostar que qualquer escritor já passou por isso na vida.
Mas o fato é que a página ainda
está lá, intacta.
Curvei-me sobre a máquina até
chegar à janela e conseguir visualizar a rua lá embaixo, “esperando o meu
corpinho se espatifar em seu concreto, duro e insensível”, pensei.
Pois vai ficar esperando.
Escritores são dramáticos e
teimosos.
Esquadrinhei as pessoas que
passavam, atarefadas. Andavam de um lado para o outro, com pressa de chegar. Ou
de ir embora. Ou de voltar.
Abandonei a janela e sentei-me
novamente. Eu também tinha pressa.
E, sentindo os músculos
relaxarem, comecei a ouvir o som familiar da máquina de escrever desvirginando
a alvura daquela folha de papel.
Mariane Lobo, escritora e, às vezes, poeta, há 3 anos divulga seus
escritos no blog Trezes (http://trezzes.blogspot.com). Nascida em 13 de março
de 1995, mora em Salvador, escreve desde os 14 anos e, atualmente, escreve seu
primeiro romance.