Por Rosangela Dias
É esta a sigla, símbolo ou rubrica que a
FAPERJ, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, utiliza para
designar o programa de financiamento para publicação de textos acadêmicos.
A escolha dos textos e da editora
funciona assim: os autores que pertencem a instituições de ensino, localizadas
no Estado do Rio de Janeiro, apresentam sua produção textual acadêmica, que
pode ser Dissertação, Tese, Coletânea de artigos, Tese pós-doc etc. para serem
selecionadas para publicação. Para tal, cada autor apresenta à FAPERJ, junto
com seu texto, três orçamentos lacrados oriundos de 3 editoras diferentes. A
FAPERJ seleciona os textos que receberão verba para a publicação e a escolha da
editora se dá por meio de licitação, isto é, a editora contemplada é a que,
além de estar em dia com impostos e taxas mil, apresenta orçamento mais em
conta.
Para editoras, como a minha, que
trabalham com textos acadêmicos da área de Ciências Humanas e Sociais, a ideia
é ótima, certo? Errado! Ou, pelo menos, nem sempre. Considerei a ideia boa a
princípio, mas esbarrei em vários problemas; enumero alguns aqui.
1. Os autores, e
isto não é monopólio dos autores acadêmicos, consideram que sua obra possui a
qualidade de um texto do historiador inglês Tony Judt, conjugada com a
potencialidade de vendas de Paulo Coelho. Só que, quando este juízo crítico se
alia com o financiamento da FAPERJ, é nitroglicerina pura. Os autores não
permitem que NADA seja modificado em seu texto e querem escolher capa,
diagramação, projeto gráfico e data para lançamento, afinal estão “pagando”
pelo livro, além de serem Mestres e Doutores. Como um copi/revisor interfere na
sua obra indicando um erro gramatical ou de concordância? A editora é encarada
como prestadora de serviços e não como parceira.
2. Como a editora
participa de uma licitação, fica difícil estabelecer um planejamento voltado
para os livros FAPERJ. Pela APQ3, o prazo é sempre de 12 meses para a editora
ter o livro pronto, não importa se o mesmo possui imagens ou um texto maior. E,
junto com isso, ainda há autores que pedem para fazer mais uma revisão e
entregam o texto final meses após o texto ter sido aprovado para publicação,
afinal, estão “pagando”.
3. Outro problema é
a questão da quantidade que a FAPERJ exige para a edição, que são de 1.000
exemplares! É difícil vender texto acadêmico de forma rápida. A característica
de editoras que publicam esse tipo de livro é possuir a chamada “cauda longa”,
isto é, os exemplares se vendem aos poucos. E o melhor é imprimir 500
exemplares e, caso se esgote, imprima-se mais. Mas por que não logo 1.000? Por
conta do estoque. Estocar livros é caro, e está muito mais agora, por conta dos
preços de aluguéis que dispararam na cidade do Rio de Janeiro, sede da maior
parte das editoras do estado.
Por conta disso, esse
ano, a Apicuri resolveu limitar sua participação nas licitações. Apesar de
termos recebido várias propostas, decidimos entrar na concorrência somente com
os três primeiros livros que nos enviaram. Três livros a mais, já que, em sendo
uma licitação nada está certo, ficam mais fáceis de serem encaixados no
cronograma anual do que cinco ou seis. Não compensa para uma editora pequena,
como a Apicuri, participar de dez, doze licitações, mesmo que os textos sejam
maravilhosos. A FAPERJ paga o livro, mas não os custos fixos da editora.
Contratar mais pessoal para atender a uma demanda nova pode ser fatal,
principalmente para editoras pequenas. Por outro lado, a tentação em participar
de licitação para vários livros aumenta a possibilidade de a editora ganhar
pelo menos um.
Não sei se a FAPERJ
alguma vez pensou em modificar a fórmula do APQ3. Talvez uma possibilidade,
quase sugestão, seria autores e editoras apresentarem as propostas juntos e a
FAPERJ as analisa e as aprova ou não. Isto criaria um vínculo maior entre
editor e autor e facilitaria o cronograma das editoras, que se programariam
para os livros apresentados.
Mas o pior de tudo é
quando o editor se depara com um texto de qualidade pedindo orçamento. A
editora participa da concorrência e a ganha. Aí prepara o livro com cuidado e
dedicação. Após muita explicação e convencimento, o autor entende o que faz um
editor e concorda com as sugestões apresentadas de projeto gráfico e que o
texto passe por revisão e copidescagem. A equipe editorial fica feliz, tanto
emprenho por parte do autor mostra que ele está interessado no resultado do
livro, vai batalhar para vendê-lo, será o melhor propagandista da sua obra.
Mas, quando o livro fica pronto e vai para as livrarias, a equipe editorial
descobre, entre desiludida e desesperada, que o interesse do autor é só e tão somente
incrementar seu currículo. O autor não convida ninguém para o lançamento do seu
livro, se nega a dar entrevistas que a editora consegue a muito custo e não nos
avisa sobre eventos, congressos e seminários que participará.
O interesse do
autor/professor/acadêmico é inserir seu título na chamada Plataforma LATTES,
ligada ao CNPq. A Plataforma LATTES é a principal base de currículos,
instituições e grupos de pesquisa das áreas de Ciência e Tecnologia. Os
currículos aí inseridos servem como parâmetro para distribuição de bolsas e
conceituação dos docentes de nível superior. Instituições como CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal e Nível Superior) e CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) premiam com bolsas, de
diferentes tipos, professores de instituições de ensino superior a partir dos
dados dessa Plataforma. Ter livro publicado aumenta a pontuação, mesmo que o
livro não venda absolutamente nada. Bom para professores do ensino superior? Talvez,
mas, com certeza, péssimo para editoras e para o mau uso do dinheiro público,
afinal a verba FAPERJ APQ3, acredito, tem também como objetivo divulgar o que é
produzido nas universidades e democratizar o conhecimento. Se o autor não está
minimamente interessado em divulgar o texto que escreveu, estes objetivos ficam
impossíveis de serem atingidos, por mais que as editoras se esforcem.