Por Antonio Fidelis
Frio, sono, vontade de correr. Minha cama
gritava desesperada por mim. Meu corpo ansiava por agasalho mais resistente a
baixa temperatura. Calafrios, arrepios e o gelo na espinha subiam toda vez que
passava uma corrente de ar. Batia os queixos, tremia mais que vara verde. O
medo me congelava naquela sombria encruzilhada. Ninguém passava, nem de carro,
nem de moto e muito menos a pé. Suspirava estático, inerte a qualquer ação
alheia. O desespero tomou conta de mim. Anestesiado com o pavor e o medo
persistentes. E o meu ônibus não passava. A neblina caía em forma de bruma, que
embaçava toda a minha visão. E o temor crescia exponencialmente, meus órgãos
empedravam com tanto frio.
Respirava e tremia, tremia e respirava, e
respirava muito. Já sem esperança, cabisbaixo, aceitava o destino, ter uma
hipotermia, morrer congelado. Quando um clarão surgiu ao longe, a iluminar a estreita
rua em que eu estava. Era um fio da esperança dando-me mais uma chance de vida.
Com movimentos curtos, sinalizei. A imensidão de lataria parou na minha frente.
Não hesitei. Entrei ainda com o ranger dos dentes, paguei ao cobrador,
atravessei a catraca. Sentei. As luzes do ônibus piscaram. O motorista desceu,
o frio aumentava e o ônibus quebrou. Azar o meu e sorte da friagem que me
possuía.
Antonio Fidelis é
formado em Relações Internacionais, mas não atua na área. Leciona na prefeitura
de São Paulo para o ensino fundamental e é também ator.