segunda-feira, 11 de junho de 2012

Paraty, história e cultura



Paraty é, nas palavras de Lucio Costa, “a cidade onde os caminhos do mar e os caminhos da terra se encontram, ou melhor, se entrosam”.

Esta geografia foi motivo de sua importância e riqueza quando seu porto escoava os produtos que desciam a serra para atravessar o oceano rumo à metrópole: o ouro das minas gerais e o café do vale do Paraíba, bem como a melhor cachaça que se produzia nos seus cento e cinqüenta alambiques.

Resultado desse comércio é o conjunto arquitetônico de beleza e importância histórica indiscutíveis. Quando o porto de Paraty não mais atendia ao comércio internacional, a cidade entrou num ciclo de declínio e abandono.

Marina de Mello e Souza aponta em Paraty, a cidade e as festas, uma singular relação entre essas condições econômicas e a cultura local: “A construção da ferrovia Dom Pedro II e depois a abolição da escravidão tiraram de vez Paraty da rede de relações econômicas da região, levando o município a mergulhar num longo período de estagnação, no qual continuou cultivando suas histórias, seus costumes, sua religião e suas festas.”

E assim, isolados durante longos anos, sua bela arquitetura e seus costumes, seus pescadores e artífices, suas matas e suas ilhas, virgens do turismo e da especulação, mantiveram-se preservados, para serem redescobertos com o advento da Rio-Santos. A nova estrada despertou, como uma varinha de condão, a bela cidade adormecida para a realidade que conhecemos hoje.

Saberes e fazeres da cultura caiçara mantidos na tradição das artes e ofícios, na celebração de festas religiosas e no orgulho da sua história estão na origem da hospitalidade e franqueza com que os paratienses recebem as visitas.

O ambiente exuberante da serra, suas trilhas e cachoeiras; as muitas praias, quase desertas, no continente e nas ilhas próximas, emolduram a cidade histórica e as comunidades que a cercam.

Este cenário, naturalmente propício ao turismo, além das tradicionais festas religiosas e profanas, é hoje enriquecido pela realização de eventos culturais de âmbito internacional.

Assim, a natureza, a história e a cultura fazem de Paraty um destino de referência para o turismo cultural no Brasil e no mundo.

Caminho do Ouro

Os índios Goianá, primeiros habitantes de Paraty, usavam uma trilha na serra que ligava suas duas aldeias, a de Paraty e a do Vale do Paraíba. Em 1660, o governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá, mandou “abrir e descobrir” esse caminho para o interior, reconhecido como a melhor maneira de se chegar a São Paulo. Do Rio, seguia-se por terra até o porto de Sepetiba, de onde se aproveitava o mar protegido pela Restinga de Marambaia e da Baía da Ilha Grande, aportando em Paraty para a subida da serra.

Com a descoberta do ouro em 1695, tornou-se a principal passagem para as Minas Gerais, e em 1703 uma Carta Régia determinou que se instalasse uma Casa de Registro para as riquezas que desciam pelo caminho. Sua utilização diminuiu em meados do século XVIII, com a abertura do Caminho Novo para o Rio de Janeiro, mais curto e apenas por terra. Com o plantio do café no Vale do Paraíba a partir do início do século XIX, o uso do Caminho Velho voltou a ser intenso, para o tráfico de escravos, para escoar a produção cafeeira e para levar aos barões do café o luxo trazido da Europa. Com a chegada da ferrovia ao Vale do Paraíba na segunda metade do século XIX, o caminho foi deixando de ser usado.

A pavimentação com pedras do caminho na serra foi necessária devido à alta pluviosidade combinada com os acentuados declives; esse calçamento, além de tornar trafegável o caminho, permitiu também sua sobrevivência até os dias de hoje, mesmo tendo sido aos poucos coberto pela mata após seu abandono. São 8.700 m calçados em pedra seca, alguns trechos no século XVIII, outros no século XIX, quando houve manutenção e reforma geral. Os trechos do século XVIII são compostos por pedras mais toscas, mais arredondadas e menos resistentes. Já no século XIX o calçamento foi composto por rochas de formato mais retilíneo, obtidas por explosão controlada, as maiores medindo mais de um metro de lado, entremeadas por areia grossa e outras menores que dão uniformidade ao conjunto. A maior parte do Caminho está dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina, e atualmente só estão abertos à visitação, com guia credenciado, os 2 km que se iniciam no Bairro dos Penha.

(Referências Bibliográficas: Paraty Estudante, Diuner Mello; O Caminho do Ouro em Paraty e sua paisagem, dossiê da candidatura ao patrimônio mundial.)