Fonte do texto: http://www.paratycultura.org.br/
Paraty é, nas palavras de Lucio Costa, “a cidade onde os
caminhos do mar e os caminhos da terra se encontram, ou melhor, se entrosam”.
Esta geografia foi motivo de sua importância e riqueza
quando seu porto escoava os produtos que desciam a serra para atravessar o
oceano rumo à metrópole: o ouro das minas gerais e o café do vale do Paraíba,
bem como a melhor cachaça que se produzia nos seus cento e cinqüenta
alambiques.
Resultado desse comércio é o conjunto arquitetônico de
beleza e importância histórica indiscutíveis. Quando o porto de Paraty não mais
atendia ao comércio internacional, a cidade entrou num ciclo de declínio e
abandono.
Marina de Mello e Souza aponta em Paraty, a cidade e as
festas, uma singular relação entre essas condições econômicas e a cultura
local: “A construção da ferrovia Dom Pedro II e depois a abolição da escravidão
tiraram de vez Paraty da rede de relações econômicas da região, levando o
município a mergulhar num longo período de estagnação, no qual continuou
cultivando suas histórias, seus costumes, sua religião e suas festas.”
E assim, isolados durante longos anos, sua bela arquitetura e
seus costumes, seus pescadores e artífices, suas matas e suas ilhas, virgens do
turismo e da especulação, mantiveram-se preservados, para serem redescobertos
com o advento da Rio-Santos. A nova estrada despertou, como uma varinha de
condão, a bela cidade adormecida para a realidade que conhecemos hoje.
Saberes e fazeres da cultura caiçara mantidos na tradição
das artes e ofícios, na celebração de festas religiosas e no orgulho da sua
história estão na origem da hospitalidade e franqueza com que os paratienses
recebem as visitas.
O ambiente exuberante da serra, suas trilhas e cachoeiras;
as muitas praias, quase desertas, no continente e nas ilhas próximas, emolduram
a cidade histórica e as comunidades que a cercam.
Este cenário, naturalmente propício ao turismo, além das
tradicionais festas religiosas e profanas, é hoje enriquecido pela realização
de eventos culturais de âmbito internacional.
Assim, a natureza, a história e a cultura fazem de Paraty um
destino de referência para o turismo cultural no Brasil e no mundo.
Caminho do Ouro
Os índios Goianá, primeiros habitantes de Paraty, usavam uma
trilha na serra que ligava suas duas aldeias, a de Paraty e a do Vale do
Paraíba. Em 1660, o governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá,
mandou “abrir e descobrir” esse caminho para o interior, reconhecido como a
melhor maneira de se chegar a São Paulo. Do Rio, seguia-se por terra até o
porto de Sepetiba, de onde se aproveitava o mar protegido pela Restinga de
Marambaia e da Baía da Ilha Grande, aportando em Paraty para a subida da serra.
Com a descoberta do ouro em 1695, tornou-se a principal
passagem para as Minas Gerais, e em 1703 uma Carta Régia determinou que se
instalasse uma Casa de Registro para as riquezas que desciam pelo caminho. Sua
utilização diminuiu em meados do século XVIII, com a abertura do Caminho Novo
para o Rio de Janeiro, mais curto e apenas por terra. Com o plantio do café no
Vale do Paraíba a partir do início do século XIX, o uso do Caminho Velho voltou
a ser intenso, para o tráfico de escravos, para escoar a produção cafeeira e
para levar aos barões do café o luxo trazido da Europa. Com a chegada da
ferrovia ao Vale do Paraíba na segunda metade do século XIX, o caminho foi
deixando de ser usado.
A pavimentação com pedras do caminho na serra foi necessária
devido à alta pluviosidade combinada com os acentuados declives; esse
calçamento, além de tornar trafegável o caminho, permitiu também sua
sobrevivência até os dias de hoje, mesmo tendo sido aos poucos coberto pela
mata após seu abandono. São 8.700 m calçados em pedra seca, alguns trechos no
século XVIII, outros no século XIX, quando houve manutenção e reforma geral. Os
trechos do século XVIII são compostos por pedras mais toscas, mais arredondadas
e menos resistentes. Já no século XIX o calçamento foi composto por rochas de
formato mais retilíneo, obtidas por explosão controlada, as maiores medindo
mais de um metro de lado, entremeadas por areia grossa e outras menores que dão
uniformidade ao conjunto. A maior parte do Caminho está dentro do Parque
Nacional da Serra da Bocaina, e atualmente só estão abertos à visitação, com
guia credenciado, os 2 km que se iniciam no Bairro dos Penha.
(Referências Bibliográficas: Paraty
Estudante, Diuner Mello; O Caminho do
Ouro em Paraty e sua paisagem, dossiê da candidatura ao patrimônio
mundial.)