Por Christiane
Angelotti
A Flip parou para falar sobre Jorge Amado. Quem estava lá
nesta manhã de quinta-feira pôde conferir uma multidão se aglomerando no
auditório da Casa da Cultura e também na tenda para o telão.
Sob a mediação do jornalista e escritor Edney Silvestre e
tendo como convidados o escritor João Ubaldo Ribeiro e dramaturgo Walcyr Carrasco,
a mesa surpreendeu por ser uma conversa descontraída e rica sobre a pessoa e a
obra de Jorge Amado.
Já no início da mesa, Edney ressaltou a quantidade de datas especiais
nesta edição da Flip: 100 anos de Jorge Amado, 110 anos de Drummond e 10 anos de
Flip, o que confer à feira um caráter ainda mais festivo.
Relatou também que há alguns anos, ao entrevistar o escritor
português Lobo Antunes, este lamentou que em seu país escritores como Jorge
Amado não são mais citados, nem sequer lembrados, muito menos lidos. O que ele
achava uma terrível perda.
Edney Silvestre acredita que as adaptações para a TV podem contribuir para reavivar a memória
do povo acerca de um determinado autor e até leva-los à leitura de sua obra.
João Ubaldo começou sua
fala visivelmente emocionado. Além de amigo e compadre de Jorge Amado, sempre
foi leitor e fã de sua obra. Disse considerar
Jorge Amado um dos maiores escritores do mundo no século XX e responsável por
um fenômeno que ele chama de “a descoberta do Brasil”, no qual há uma forma
especial e peculiar de narrar o universo brasileiro com personagens típicos,
mas não estereotipados, os quais o público se identifica e se sente
representado.
Walcyr Carrasco, que adaptou Gabriela, Cravo e Canela para a televisão,
atualmente no ar na Rede Globo, contou que leu o livro pela primeira vez aos
doze anos de idade e que Jorge fez parte da sua formação como pessoa e como
autor. Questionado sobre o que ele considera ser uma adaptação, disse acreditar
ser uma releitura do original, uma nova forma de contar uma história, com
outras palavras, mas ao mesmo tempo mantendo uma “parceria” com a obra original.
Ele acredita que só se pode adaptar bem uma obra quem realmente conhece o autor,
sua forma de ver o mundo e seu universo.
Ao final, questionados por Edney sobre por que se lê pouco
no Brasil, ambos concordaram que há um conjunto de fatores, como, por exemplo, uma
defasagem na formação dos próprios professores e, ainda, uma predominância de se
buscar uma literatura pasteurizada, na qual os assuntos considerados polêmicos ou
difíceis não têm espaço. Carrasco ainda ressaltou que “o livro é dado às
crianças como remédio, e não fonte de prazer.”