quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

El Florida Room

Richard Blanco é gay, saradésimo e descendente de cubanos. Blanco foi o poeta escolhido por Barack Obama para escrever e ler uma poesia composta especialmente para sua segunda posse como presidente da (ainda) mais rica nação do planeta. Tradição iniciada com o devasso e católico Kennedy, reabilitada pelo protestante e também devasso Clinton e mantida pelo quase puro e casto Obama. A escolha, mais emblemática impossível, sinaliza uma nova América do Norte, não mais WASP, mas polissexual e multicultural. O poema abaixo foi escolhido como "Poem of the day" pelo aplicativo Poem Flow no dia 25/04/2012, e retrata um país capaz de se comover com pequenas coisas.
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 El Florida Room

Not a study or a den, but El Florida
as my mother called it, a pretty name
for the room with the prettiest view
of the lipstick-red hibiscus puckered
up
against the windows, the tepid breeze
laden with the brown-sugar scent
of loquats drifting in from the yard.

Not a sunroom, but where the sun
both rose and set, all day the shadows
of banana trees fan-dancing across
the floor, and if it rained, it rained
the loudest, like marbles plunking
across the roof under constant threat
of coconuts ready to fall from the sky.
 
Not a sitting room, but El Florida
where
I sat alone for hours with butterflies
frozen on the polyester curtains
and faces of Lladró figurines: sad
angels,
clowns, and princesses with eyes
glazed
blue and gray, gazing from behind
the glass doors of the wall cabinet.

Not a TV room, but where I watched
Creature Feature as a boy, clinging
to my brother, safe from vampires
in the same sofa where I fell in love
with Clint Eastwood and my Abuelo
watching westerns, or pitying women
crying in telenovelas with my Abuela.

Not a family room, but the room
where
my father twirled his hair while
listening
to 8-tracks of Elvis, and read
Nietzsche
and Kant a few months before he
died,
where my mother learned to dance
alone
as she swept, and I learned Salsa
pressed
against my Tía Julia's enormous
breasts.

At the edge of the city, in the company
of crickets, beside the empty
clothesline,
telephone wires and the moon, tonight
my life is an old friend sitting with me
not in the living room, but in the light
of El Florida, as quiet and necessary
as any star shining above it.

***

El Florida Room*

Nem um estúdio, ou uma toca, mas El Florida
como minha mãe chamava, um nome bonito
para o quarto com a mais bela vista
do hibisco vermelho-batom sem desabrochar
contra as janelas, a brisa morna
carregada com o cheiro de açúcar mascavo
das nêsperas deslizando pelo quintal.

Não um solarium, mas onde o sol
róseo definia todas as sombras do dia
fazendo as bananeiras desenharem a dança dos 7 véus
no chão, e se chovia, chovia
barulhento, como bolas de gude quicando
por todo o telhado sob constante ameaça
de cocos prontos a desabarem do céu.

Não era uma sala de estar, mas El Florida
onde
eu sentava por horas com borboletas
congeladas nas cortinas de poliéster
e com as faces das porcelanas Lladró: tristes
anjos. 
Palhaços, e princesas com olhos
esmaltados
de azul e cinza, mirando através
das portas de vidro da cristaleira.

Não era uma sala de TV, mas onde eu assistia
Creature Feature quando menino, me agarrando
a meu irmão, a salvo dos vampiros,
no mesmo sofá onde me apaixonei
por Clint Eastwood e por meu Abuelo
assistindo a filmes de velho oeste, ou
sentindo compaixão das mulheres chorando
nas telenovelas com minha Abuela.

Não era uma sala para a família, mas a sala
onde
meu pai encaracolava seus cabelos enquanto
ouvia
discos de Elvis e lia
Nietzsche
e Kant poucos meses antes de morrer,
onde minha mãe aprendeu a dançar
sozinha
Ela com a vassoura e eu aprendendo salsa
esmagado
contra os enormes seios da
Tia Julia.

Na periferia da cidade e na companhia
de grilos, além do vazio
varal,
fios de telefone e a lua, hoje
minha vida é um velho amigo sentando comigo
não na sala de estar, mas na luz
do El Florida, tão quieta e necessária
quanto qualquer estrela brilhando lá em cima.

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* Tradução de Rosangela Dias