O livro e a pesquisa nasceram de uma curiosidade específica, sobre o debate
político no Brasil em 1989. O país vivia o contexto da primeira eleição
presidencial direta desde o fim do regime militar. No ambiente externo, o ano é
um marco histórico de transformações estruturais fundamentais, com o fim da
Guerra Fria. Além disso, o fim de século é caracterizado por um novo momento
tecnológico que modificava os sistemas de produção e as relações econômicas
(financeiras e comerciais) internacionais. Como tudo isso está presente no
debate político brasileiro da época impulsionou os primeiros passos da pesquisa
que deu origem ao livro.
2. De que forma este trabalho tem influência em sua carreira como
pesquisador?
O livro O Brasil depois da Guerra Fria
é o principal produto originado da minha tese de doutorado, defendida há alguns
anos no Instituto de Relações Internacinais da PUC-Rio. Tanto a obra como a
própria tese consolidam em minha carreira profissional uma junção que vem sendo
trabalhada há muito tempo entre comunicação e política, que perpassa tanto
minha atuação como jornalista quanto como pesquisador e professor. Ora,
facilmente percebe-se que a realidade política em sociedades marcadas pela
presença dos meios de comunicação de massa não é mais que uma "realidade
mediada". Ou seja, o que efetivamente chega ao cidadão é basicamente o que
está na cobertura política midiática. Nesse terreno, ganham destaque perguntas
clássicas como: quais as ideias políticas que estão sendo difundidas na grande
comunicação política midiatizada?; que interpretações sobre temas da política
prevalecem?; qual é efetivamente a pauta política capitaneada pelos grandes
veículos?. Afinal, a política não é um terreno externo a ser coberto por
jornalistas, mas algo que se constitui também e principalmente, nos dias de
hoje, no ambiente midiático. Foi nesse sentido que a pesquisa que deu origem ao
livro O Brasil depois da Guerra Fria
se debruçou sobre o debate político midiatizado nas seções de Opinião dos
jornais Folha de São Paulo e O Globo em 1989.
3. Qual interesse maior em publicar o livro? Quais as expectativas?
O grande interesse na publicação deste livro é o de contribuir para o debate
sobre economia política no país. A partir da análise do material pesquisado,
faço duas sugestões. A primeira é a de que as mudanças pelas quais o país
passou na última década do século XX dialogam com as transformações estruturais
ocorridas no ambiente político e econômico internacional no mesmo período e
caracterizam o que chamo de "o fim da Guerra Fria no Brasil". Nesse
sentido, aponto para a possibilidade de que este momento guarda, assim, uma
certa tradição do que somos hoje como país. A segunda e, talvez, principal, em
função de sua atualidade, é a de que a democracia possibilitou a alternância de
paradigmas na economia política brasileira. Afinal, o modelo fortemente
intervencionista, hegemônico desde a primeira metade do século XX, não passou
incólume pela redemocratização pós-regime militar. Se os governos Lula e Dilma
pouco a pouco retomaram o viés intervencionista, a economia brasileira pós-1989
dificilmente poderá retomar de modo integral o modelo anterior, até mesmo pelos
compromissos internacionais assumidos durante as reformas. Além disso, vemos
hoje sinais de esgotamento desta “onda intervencionista”, com questões bastante
semelhantes àquelas do fim dos anos 1980: inflação, baixo crescimento,
problemas de infraestrutura. Enfim, gostaria de sugerir que o debate de
economia política no Brasil democrático não esteja voltado para a busca de uma
“verdade eterna”, uma disputa do tipo “Fla X Flu” entre o intervencionismo e o
liberalismo, pela "verdade eterna" da economia política no país. Em
alguns momentos e/ou algumas questões, mais intervenção pode ser importante. Em
outros momentos e/ou outras questões, reduzir a presença do Estado na economia
pode ser extremamente benéfico para o país. Essa é uma oportunidade que a
democracia nos coloca.
4. Quais seus novos projetos de pesquisa?
Atualmente, tenho
desenvolvido pesquisa sobre os problemas em torno da representação política em
regimes democráticos, sobre as questões acerca da chamada "crise da
democracia representativa", articulando este contexto com o pontencial,
vulnerável, é claro, que a internet apresenta em abrigar instituições virtuais
estatais ou não com o intuito de estabelecer um vínculo comunicativo mais amplo
entre representantes e representados nos regimes democráticos contemporâneos,
em especial no Brasil. Entre os sinais negativos apontados estão a apatia dos
eleitores, o descolamento entre o sistema político e o cidadão, o desinteresse
na política, uma informação política distorcida ou excessivamente dependente
dos meios de comunicação de massa, o baixo capital político da esfera civil, a
ausência de soberania popular e a desconfiança generalizada da sociedade na
política e na classe política. Além disso, inclui-se no contexto os problemas
da própria comunicação pública/política como a competição entre a política e o
entretenimento pela atenção do cidadão no ambiente midiático, a disseminação
pelo jornalismo de uma visão cínica da política, a redução da política a
eventos e personalidades, os problemas políticos inerentes ao sistema few to
many da comunicação de massa tradicional, a personificação da política
favorecida pelo ambiente midiático etc. De que forma a comunicação política via
internet pode amenizar ou até mesmo resolver tais questões é um tema que estará
presente nos mais variados tipos de regimes democráticos espalhados pelo
planeta.