Por Rodrigo Novaes de Almeida
"Não, a pintura não está feita para decorar apartamentos.
Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo."
(Pablo Picasso, sobre Guernica)
O inglês T.J. Clark, 70 anos, é historiador da arte, ensaísta e um marxista com diversos livros sobre os rumos da esquerda. Na mesa de ontem à noite, sua palestra-aula, que para o público não especializado pareceu cansativa, fazendo muita gente sair antes do término, analisou a ligação entre arte e política no século XX através de uma minuciosa leitura de uma das obras-primas de Pablo Picasso, o painel Guernica [veja reprodução do painel aqui], pintado em 1937 e representativo do bombardeio sofrido pela cidade espanhola de mesmo nome pelos alemães.
Guernica, que representou uma ruptura nas obras do pintor cubista, segundo Clark — por retratar uma paisagem trágica e denunciar o horror da guerra civil espanhola e o prenúncio da Segunda Guerra Mundial —, mantém-se atual e, ainda segundo o historiador, "uma pintura histórica que se recusa a morrer".
Seu livro Picasso and truth continua inédito no Brasil, talvez por pouco tempo, após essa sua estada na FLIP. A Companhia das Letras tem publicado A pintura da vida moderna, e a Cosac Naify, Modernismo. Neste último, chama atenção o ensaio-palestra "O Estado do Espetáculo", sobre o atentado terrorista às torres gêmeas no 11 de setembro e os efeitos no mundo desde então [leia trechos aqui].
Um folclore antigo sobre Guernica, de que me lembrei vagamente enquanto ouvia Clark, e fui procurar no pai dos desmemoriados chamado Google, diz que, em 1940, com Paris ocupada pelos nazistas, um oficial alemão, diante de uma fotografia reproduzindo o painel, perguntou a Picasso se havia sido ele quem tinha feito aquilo. O pintor, então, teria respondido: "Não, foram vocês!".