domingo, 7 de julho de 2013

Minha crônica para a Festa Literária Internacional de Paraty, 11ª edição

Por Rodrigo Novaes de Almeida


Aqui [no Brasil] me parece o lugar onde tudo está começando, disse o escritor irlandês John Banville. Isto me fez pensar em Claude Lévi-Strauss: Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína.

Escrevo nesta manhã de domingo, último dia da décima primeira edição da festa literária internacional de Paraty, na beira da piscina da pousada, uma bela manhã: há sol, há céu azul, há brisa do mar, e os cheiros de alimentos de temperos já escapam das cozinhas e tomam as ruas de pedras do centro histórico. Escrevo nesta manhã de domingo para me despedir desses últimos dias.

Aqui, por mais conectados que estejamos, mesmo que as redes fiquem congestionadas e a ponto de um colapso — ontem só consegui conexão perto da meia-noite —, o mundo só entra se o deixarmos; soube que derrubaram o governo no Egito. Egito que chegou a mim outro dia aqui, na Tenda dos Autores, enquanto assistia a um dos vídeos que antecedem a mesa, com um senhor grisalho lendo trecho da obra de Graciliano Ramos, o homenageado desta festa. Ele estava em um corredor de uma biblioteca e a leitura falava de minúcias de um cotidiano que me levou a fragmentos de papiros de cerca de seis mil anos, de uma humanidade tão longe e tão perto de nós.

Talvez esta seja a magia de Paraty e da FLIP. Porque me sento aqui, diante do laptop, na beira da piscina da pousada, em que há sol, o mesmo sol, em que há céu azul, o mesmo infinito azul, em que há brisa de um mar eterno, em que há o humano atravessando o arco das eras e colocando em palavras o seu espanto diante do mundo.