Rodrigo Novaes de Almeida
Em Paraty é comum esbarrar com
toda forma de artista: pintores, artesãos, músicos. Em cada pedacinho de pedra,
paramos para observar, ouvir ou conversar com um. Durante a FLIP,
especialmente, poetas de várias partes do país, e não apenas os nativos,
invadem Paraty. Todos eles com os seus livros debaixo do braço, desde
fotocópias tipo zines até edições por demanda de alguma editora pequena.
Confesso que não fico imune.
Curiosidade, interesse ou mesmo camaradagem de escritor, dou atenção a todos. E,
em muitos casos, não dá para se arrepender do que se vê, se ouve e se lê nas
ruas de Paraty.
Estar num bar bebendo uma cerveja,
uma taça de vinho ou uma cachaça local com os amigos e ser assaltado por uma trupe denominada Poetas ambulantes — a gente dá
atenção! Escuta. E é sarau rolando solto. Daí vendem pra gente uma caixa de
fósforos, com poemas em pedaços de papel malcortados e quatro palitinhos de
fósforo (talvez para o perrengue de um fumante inveterado como eu que
certamente terá o isqueiro fora de batalha justamente no último cigarro da
noite, após a mijada, antes de soltar o diabo acabado do corpo na cama).
[Peraí que me perdi. Sim, o
pessoal da caixa de fósforos.]
Um ímã colado atrás; pra prender
na geladeira? Bom. Desse pessoal, com vocês, Carolina Peixoto (vou trazer um
pouquinho das ruas de Paraty para cá, ok): “Pra que esperar príncipe encantado
/ Se me encanto com os sapos / sem nem esperar”. E Mel Duarte dizendo que
saudade “é quando sentimos falta de algo / que muitas vezes nem sabemos /
direito o que é, mas temos certeza / de quem pode nos dar”. Desce mais uma, garçom,
por favor!
Corta e aí: outro que chega. Lucas
de Castro Lisboa, mineiro (este parêntese, estou chato com parêntese, mas é
para dizer: como tem mineiro poeta em Paraty!), de quem não comprei o livro,
mas fiquei com o zine, espécie de cartão de apresentação com alguns poemas e, é
claro, seus contatos: site, e-mail, Twitter, Facebook e telefones — celulares de
Minas e do Rio.
Lucas e seu da insignificância, e não é somente para manter alguma linha
narrativa nesta crônica, que diz: “Pois eu nunca mais / cederei outro cigarro /
pra quem nega trago”. Taí...
[Pausa. Respira. Traga. Bebe um
trago. Solta a fumaça. Escreve.]
...vou terminar com a Pilar — porque
tenho que terminar, já é noite, a última
noite, e Paraty me espera fora desse quarto de hotel —; Pilar que me vendeu
duas revistas Ocas (que deixarei para
ler no ônibus de volta ao Rio na triste segunda-feira que também se chama, pelo
menos hoje, amanhã) e seu livro-mais-para-zine, cujo poema Amantes da manguaça,
diz ela, fora elogiado por Xico Sá: “Ai caramba mutchaca! / Não dá pra viver
sem a danada da cachaça!”
Bem, em Paraty, em questão de
cachaça, o visitante estará sempre muito bem-servido. E de poesia, por que não,
se tiver sorte, ao menos nesses cinco dias de festa, também.
Até o ano que vem!