segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Entrevista com Fernanda Pequeno, autora de 'Lygia Pape e Helio Oiticica – Conversações e fricções poéticas'

1. Como chegou ao tema abordado neste trabalho e à escolha dos dois artistas, Lygia Pape e Helio Oiticica?

Eu pesquisava a produção artística de Hélio Oiticica desde 2002, como bolsista de iniciação científica. Havia tomado contato com sua obra na mostra Rio Arte Contemporânea no MAM-RJ nesse mesmo ano. Após um ano pesquisando a sua trajetória, senti necessidade de um contraponto comparativo. Nessa época, a exposição individual de Lygia Pape estava em cartaz no Centro de Arte Hélio Oiticica e saí dessa mostra bastante mexida, e com muita vontade de escrever sobre o trabalho dela. Foi então que veio a ideia de conhecê-la melhor, pesquisar a sua poética. Os seus trabalhos me marcaram muito nessa época. O livro é resultado dessa pesquisa iniciada em 2002, ainda na graduação, e defendida como dissertação de mestrado em 2007. Estava interessada nas aproximações e nos distanciamentos entre as duas poéticas e procurava fugir de um recorte cronológico ou estilístico.

2. Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória profissional e a sua pesquisa acadêmica. Quais as dificuldades maiores para a pesquisa?

Eu fiz a graduação e o mestrado em História da Arte, na UERJ, e sempre gostei de estudar, da pesquisa, da escrita. Comecei a ser bolsista de iniciação científica no começo da faculdade e me encontrei nesse universo. Paralelo a isso, eu comecei a escrever e a organizar exposições de professores e de colegas da faculdade.

As maiores dificuldades para a pesquisa quando você trabalha com artes é ter acesso às obras originais. Como muitas vezes elas não integram coleções públicas e são as próprias famílias que cuidam dos acervos, é sempre mais difícil ter acesso às obras e aos documentos do que se elas pertencessem a um museu ou a uma instituição. Eu tive muita sorte porque contei com o apoio tanto do Projeto Hélio Oiticica quanto do Projeto Lygia Pape. Sem isso eu não poderia, por exemplo, ter escrito sobre os filmes da Lygia Pape, que não integram nenhuma coleção pública e que são pouquíssimos divulgados. Há muitas pessoas que sequer sabem que ela produziu filmes. Eles também liberaram várias imagens para compor o livro, então, sou muito grata a eles.

3. Qual interesse maior em publicar o livro? E quais as expectativas?

O interesse é divulgar uma pesquisa feita há seis anos que até agora havia circulado apenas no meio acadêmico e em congressos da área. Estou muito realizada em ver que o texto é ainda atual, é um sonho que se realiza. Além de admiradora do trabalho dos dois artistas, foi um texto realizado com seriedade e rigor, então, assisti-lo vindo a público é muito gratificante.

Lygia Pape e Hélio Oiticica são grandes artistas brasileiros e tenho expectativa de que será um livro relevante para a pesquisa sobre os dois porque essa articulação entre as suas poéticas é inédita. Eu quis apontar que há muitos pontos de contato possíveis, mas que também há divergências. Os dois foram amigos e contemporâneos no Grupo Frente, no concretismo e no neoconcretismo e é interessante perceber similaridades e diferenças entre as suas pesquisas, buscando analisar atentamente os seus trabalhos. Estou muito satisfeita com o resultado e espero que os leitores gostem.

4. Alguma coisa que queira acrescentar? Há novos projetos atualmente?

Eu estou terminando a escrita da minha tese de doutorado, que também é sobre arte brasileira e que será defendida em breve. Também venho atuando como curadora e crítica de arte free lancer, além de ser professora. Gosto muito de atuar nessas direções. No meu caso, os papéis da crítica e da professora não são excludentes, mas se retroalimentam.