1)
Conte-nos um pouco sobre o seu processo de criação neste teu romance de
estreia, Viagem sentimental ao Japão.
Escrevo desde sempre, contos, novelas mais longas. Mas nunca publiquei
porque estava experimentando e procurando meu estilo. Em Viagem
sentimental ao Japão, Anette, a protagonista, apareceu para ficar. Comecei
a narrativa em primeira pessoa e, poucas páginas depois, já tinha a personagem.
Há alguns aspectos que considero importantes na história de Anette: 1)- ela é
solitária, tem uma imaginação muito fértil, mas se esforça para conviver; 2)-
vive no universo das viagens reais e imaginárias, e assim suas viagens — as
dela e de todos nós, fingidas ou não — são importantes no enredo; 3)- Anette lê
muito e coleciona relatos de viagens, os livros fazem parte da sua vida; 4)- o
Japão exerce um fascínio sobre ela: o outro lado do mundo parece inatingível. Definida
a personagem, mergulhada no mistério de viajar, foi muito gostoso escrever. E
surgiu Viagem sentimental ao Japão.
Estudei bastante para escrever. Se fosse muito, muito longe, diria que minha
inspiração primeira surgiu dos desenhos dos viajantes europeus na época em que
chegaram ao Brasil. Gosto de imaginar o deslumbramento que os viajantes
sentiram com nossas terras. Esse deslumbramento inspirou a viagem sentimental
de Anette.
2)
Quais as suas influências literárias? Que autores a inspiram? E quais os seus
livros preferidos?
Tudo o que leio inspira minha escrita, desde dicionários a livros de
culinária até autores reconhecidamente clássicos. O cinema também me influencia
bastante. Há, no entanto, autores com os
quais me identifico, e essa afinidade também varia no tempo. Entre os
brasileiros, hoje, destaco leitura de Machado de Assis, Lima Barreto, Guimarães
Rosa, Graciliano Ramos, Luiz Bras, Marçal Aquino e Marcelino Freire. Cervantes,
Tolstoi, Nabokov, Julio Cortázar, Javier Marias, Javier Cercas, Enrique Vila-Matas,
Philip Roth, J.M. Coetzee, Elias Canetti, Sándor Márai, também estão sempre
comigo. Adoro os escritores japoneses, especialmente
Haruki Murakami, Kensaburo Oe, Jun’Ichiro Tanizaki, Yasunari Kawabata e
Mishima.
Meus livros preferidos são: O jogo da amarelinha, Jovens de um novo tempo, despertai!, Grande sertão: Veredas, São Bernardo, Sozinho no deserto extremo, Ana
Karenina, Lolita, Recordações do escrivão Isaías Caminha, Auto-de-fé e D. Quixote. Não posso deixar de lembrar um livro muito querido na
infância: Os desastres de Sofia, da Condessa
de Ségur. Os livros estão na ordem em
que me vêm à memória e não de preferência, prefiro todos, esses e outros que
agora não especifico. Entre os poetas, gosto muito de Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Carlito Azevedo e, é claro, de Drummond. Ah, e sou fã incondicional de Bob
Dylan.
3)
Qual será o seu próximo projeto? Já começou a trabalhá-lo?
Comecei um romance policial. Estou gostando bastante de escrever e encontrei um personagem bem bacana: é o Elvis.