Por
Rodrigo Novaes de Almeida
Como
fazer amor com um negro sem se cansar é o inusitado nome
do livro de estreia de Dany Laferrière, escrito há cerca de trinta anos. O
público presente se entusiasmou com a leitura de um trecho do livro pelo autor.
Antes, Zoé Valdés lera um trecho do seu livro também, mas problemas técnicos no
microfone interromperam a leitura e o seu fluxo narrativo. Valdés é autora dos
livros O nada cotidiano e O tudo cotidiano, que, juntos, formam O todo cotidiano. Pátria, exílio,
autobiografia e ficção, sexo: temas em comum nos livros dos dois convidados
desta mesa. A mediação foi da escritora e jornalista portuguesa Alexandra Lucas
Coelho, que vive no Rio de Janeiro.
Zoé
Valdés é cubana e nasceu no ano da revolução, em 1959.
Escreveu, entre outros livros premiados, O
nada cotidiano. Este, clandestinamente em Cuba, enviando-o para a Europa
pouco antes de se exilar em Paris, com a sua filha. Neste romance, ela conta a
história de Pátria, seus amores, amigos e família, mas essencialmente de todos
aqueles que ficaram em Cuba e viveram e ainda vivem sob o fracasso da revolução
castrista.
Dany
Laferrière nasceu em 1953 em Porto Príncipe, no Haiti, e em
1976 exilou-se em Montreal, no Canadá, fugindo da ditadura de Baby Doc. Em
1985, publicou seu primeiro livro, Comment
faire l'amour avec un nègre sans se fatiguer (Como fazer amor com um negro sem se cansar), adaptado para o cinema
pelo diretor canadense Jacques Benoit e lançado no Brasil somente agora
(durante a Flip), pela Editora 34.
“Como fazer amor foi escrito numa época em que eu era furiosamente
livre”, afirmou Dany. No exílio, trabalhou em fábricas até que um dia comprou
uma máquina de escrever Remington 22. Sentou diante dela e não parou mais de
escrever.
Sexo e ficção
“Interessa-me
escrever o desejo, principalmente o desejo da mulher, mas também o do homem. A
dor do sexo, a ternura, o amor, o orgasmo feminino, as sensações”, disse Zoé,
colocando o sexo como uma afirmação de identidade. Dany, por outro lado,
politiliza até o sexo, considerando-o libertador.
Apesar de os dois
escritores praticamente não conversarem entre si, foi uma mesa rica de ideias e
experiências. Zoé disse ainda que a noção de pátria mudou e hoje está mais
ligada à política do que à cultura. E admitiu que todas as noites, quando pega
o seu computador e cadernos para escrever, retorna para a sua Cuba. Já Dany
provocou risos do público ao afirmar que, quando quer saber notícias do Haiti,
liga para a mãe e pergunta não como vãos as coisas no país, mas como ela está. O
humor e a saúde da mãe servem como termômetro da situação no país. Ele também
se comparou aos pintores primitivos – “seus verdadeiros mestres” –, dizendo-se “um
escritor primitivo”.
“Somos animais
leitores”, arrematou ainda, definindo perfeitamente todos que ali se
encontravam naqueles cinco dias de festa, reflexão e literatura em Paraty.