sábado, 7 de julho de 2012

Mesa: Pelos olhos dos outros


Por Rodrigo Novaes de Almeida

Jennifer Egan e Ian McEwan têm em comum personagens empáticos, disse Arthur Dapieve, mediador da mesa. Foi o ponto de partida para os dois escritores falarem sobre como constroem suas narrativas.

Egan disse que começa os seus romances com a atmosfera, tempo e lugar, e não com os personagens. McEwan admitiu “entrar como sonâmbulo” no processo de criação, comparando-se a um pintor, em que cada traço levaria ao próximo e assim por diante. “Não consigo imaginar qual personagem estará no meu próximo romance”, confessou. Ambos concordaram que seus personagens vêm à tona no decorrer da escrita.

“Eu preciso que o romance morra e os personagens se congelem, fiquem para trás; só assim posso começar outro”, disse McEwan. Jennifer Egan, ao contrário, afirmou que seus personagens passam a fazer parte da sua própria memória, como se existissem de fato. E ainda contou ter prazer na manipulação – seus narradores têm pouca credibilidade, não se pode confiar neles – e que “tudo é manipulação. O romancista é um manipulador.”

Ian McEwan nasceu em 1948 em Aldershot, na Inglaterra, sendo hoje um dos autores mais badalados da sua geração. Destacam-se os romances  Amsterdam (1998), pelo qual saiu vencedor do Man Booker Prize, Reparação (2001), cuja adaptação para o cinema teve sete indicações para o Oscar, e Sábado (2005). Em 2007, foi lançado no Brasil o romance Na praia, prosa precisa e implacável em que um único mal-entedido traz profundos estragos na vida dos personagens, os recém-casados Edward e Florence. Serena (2012) foi lançado agora nesta edição da Flip, antes mesmo de ser lançado na Inglaterra – previsto para agosto.

Jennifer Egan nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1962. Ganhou o Pulitzer e o National Book Critics Circle com o romance A visita cruel do tempo. Publicado no Brasil pela editora Intrínseca, conta várias histórias entrecruzadas, em que cada capítulo poderia ser um conto independente. Caleidoscópico, vamos de uma São Francisco dos anos 1970 até uma Nova Iorque de um futuro próximo, conhecendo dezenas de personagens ligados de alguma forma entre si e à música – ou à indústria fonográfica –, embora o mais marcante personagem, que parece se materializar ao longo das páginas, seja o tempo. A Intrínseca acaba de lançar também O torreão, romance anterior ao A visita cruel do tempo.

No final da mesa, Dapieve perguntou para os dois sobre prêmios, como o Nobel, já que ambos são escritores premiados em seus países. Egan fez uma careta e arrematou que “prêmios são questão de sorte, agradar as pessoas certas na hora certa”, não dando muita importância para eles. O escritor inglês concordou.