Por Rodrigo Novaes de Almeida
Jennifer Egan e Ian McEwan têm em comum personagens empáticos, disse
Arthur Dapieve, mediador da mesa. Foi o ponto de partida para os dois
escritores falarem sobre como constroem suas narrativas.
Egan disse que começa os seus romances com a atmosfera, tempo e lugar, e
não com os personagens. McEwan admitiu “entrar como sonâmbulo” no processo de
criação, comparando-se a um pintor, em que cada traço levaria ao próximo e
assim por diante. “Não consigo imaginar qual personagem estará no meu próximo
romance”, confessou. Ambos concordaram que seus personagens vêm à tona no
decorrer da escrita.
“Eu preciso que o romance morra e os personagens se congelem, fiquem
para trás; só assim posso começar outro”, disse McEwan. Jennifer Egan, ao
contrário, afirmou que seus personagens passam a fazer parte da sua própria
memória, como se existissem de fato. E ainda contou ter prazer na manipulação –
seus narradores têm pouca credibilidade, não se pode confiar neles – e que “tudo
é manipulação. O romancista é um manipulador.”
Ian McEwan
nasceu em 1948 em Aldershot, na Inglaterra, sendo hoje um dos autores mais
badalados da sua geração. Destacam-se os romances Amsterdam
(1998), pelo qual saiu vencedor do Man Booker Prize, Reparação (2001), cuja adaptação para o cinema teve sete indicações
para o Oscar, e Sábado (2005). Em
2007, foi lançado no Brasil o romance Na
praia, prosa precisa e implacável em que um único mal-entedido traz
profundos estragos na vida dos personagens, os recém-casados Edward e Florence.
Serena (2012) foi lançado agora nesta
edição da Flip, antes mesmo de ser lançado na Inglaterra – previsto para
agosto.
Jennifer Egan
nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1962. Ganhou o Pulitzer e o National
Book Critics Circle com o romance A
visita cruel do tempo. Publicado no Brasil pela editora Intrínseca, conta
várias histórias entrecruzadas, em que cada capítulo poderia ser um conto
independente. Caleidoscópico, vamos de uma São Francisco dos anos 1970 até uma
Nova Iorque de um futuro próximo, conhecendo dezenas de personagens ligados de
alguma forma entre si e à música – ou à indústria fonográfica –, embora o mais
marcante personagem, que parece se materializar ao longo das páginas, seja o
tempo. A Intrínseca acaba de lançar também O
torreão, romance anterior ao A visita
cruel do tempo.
No final da
mesa, Dapieve perguntou para os dois sobre prêmios, como o Nobel, já que ambos
são escritores premiados em seus países. Egan fez uma careta e arrematou que “prêmios
são questão de sorte, agradar as pessoas certas na hora certa”, não dando muita
importância para eles. O escritor inglês concordou.