Por
Rosangela Dias
Alcides Villaça e Antonio Carlos Secchin, ambos
professores universitários, abordaram dois poemas de Drummond componentes do
livro A rosa do povo, escrito entre
1943 e 1945, sendo neste ano publicado. O primeiro cuidou bem de “O elefante”e
o segundo acariciou “Áporo”.
Villaça, na mesa, confessou que não gostava de
Drummond quando adolescente, o considerava “difícil”, seu poeta preferido era
Manuel Bandeira. Entretanto, rendeu-se ao poeta ao conhecê-lo melhor, e tanto,
que escreveu a dissertação de mestrado “Consciência lírica em Drummond”.
Secchin, em entrevista a Ademir Pascale, editor do
portal CRANIK, declara, revela, admite, afirma e confirma em resposta rápida
que, em tendo que citar um livro, este é A
rosa do povo. O prefácio da edição de 2012, da Companhia das Letras, que
está publicando a obra completa de Drummond, de A rosa é escrita por Secchin. Vínculos outros e muitos devem
existir entre Secchin e a obra de Drummond.
Os dois tabelaram de forma muito bonita na mesa.
Villaça expondo os dilemas de Drummond, sobre “ser ou não ser um animal
político”. Desejo que possuía, mas que não conseguiu realizar, felizmente.
Drummond aproximou-se do partido comunista, mas a ele não se filiou. “A
ideologia mata a poesia”, ideia de Otto Maria Carpeaux revelada por Villaça,
Drummond foi poetíssimo.
Secchin abordou com precisão e argúcia a escrita
de Drummond, o conhecimento que o poeta possuía das palavras, como conseguia
extrair delas inúmeros sentidos, o que confere concretude maior à poesia. Para
Villaça a poesia possui concretude, não abstrações.
Mas o afastamento da ideologia não confortou o
poeta que estava à procura de amigos, por isso vestiu-se de elefante, como
revela o poema. A rosa foi escrito em
momento difícil, fim da II Guerra Mundial; mortos, sangue, órfãos, holocausto.
As palavras, que tinham sido tão desgastadas nos discursos
políticos-ideológicos do período precisavam retomar seu lugar, sua dimensão,
sua precisão e novos sentidos. Precisavam se soltar porque, como Drummond
afirma em “A consideração do poema”:
As
palavras não nascem amarradas,
elas
saltam, se beijam, se dissolvem,
no
céu livre por vezes um desenho,
são
puras, largas, autênticas, indevassáveis.
Secchin, preocupado em mostrar a produção
literária do poeta, ao analisar “Áporo”, faz o que Drummond recomenda:
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Nelas, também estão mergulhadas as mesas da Flip.