segunda-feira, 9 de julho de 2012

Pequenas notas sobre a mesa: Drummond, o poeta moderno


Por Rosangela Dias

Alcides Villaça e Antonio Carlos Secchin, ambos professores universitários, abordaram dois poemas de Drummond componentes do livro A rosa do povo, escrito entre 1943 e 1945, sendo neste ano publicado. O primeiro cuidou bem de “O elefante”e o segundo acariciou “Áporo”.

Villaça, na mesa, confessou que não gostava de Drummond quando adolescente, o considerava “difícil”, seu poeta preferido era Manuel Bandeira. Entretanto, rendeu-se ao poeta ao conhecê-lo melhor, e tanto, que escreveu a dissertação de mestrado “Consciência lírica em Drummond”.

Secchin, em entrevista a Ademir Pascale, editor do portal CRANIK, declara, revela, admite, afirma e confirma em resposta rápida que, em tendo que citar um livro, este é A rosa do povo. O prefácio da edição de 2012, da Companhia das Letras, que está publicando a obra completa de Drummond, de A rosa é escrita por Secchin. Vínculos outros e muitos devem existir entre Secchin e a obra de Drummond.

Os dois tabelaram de forma muito bonita na mesa. Villaça expondo os dilemas de Drummond, sobre “ser ou não ser um animal político”. Desejo que possuía, mas que não conseguiu realizar, felizmente. Drummond aproximou-se do partido comunista, mas a ele não se filiou. “A ideologia mata a poesia”, ideia de Otto Maria Carpeaux revelada por Villaça, Drummond foi poetíssimo.

Secchin abordou com precisão e argúcia a escrita de Drummond, o conhecimento que o poeta possuía das palavras, como conseguia extrair delas inúmeros sentidos, o que confere concretude maior à poesia. Para Villaça a poesia possui concretude, não abstrações.

Mas o afastamento da ideologia não confortou o poeta que estava à procura de amigos, por isso vestiu-se de elefante, como revela o poema. A rosa foi escrito em momento difícil, fim da II Guerra Mundial; mortos, sangue, órfãos, holocausto. As palavras, que tinham sido tão desgastadas nos discursos políticos-ideológicos do período precisavam retomar seu lugar, sua dimensão, sua precisão e novos sentidos. Precisavam se soltar porque, como Drummond afirma em “A consideração do poema”:

As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Secchin, preocupado em mostrar a produção literária do poeta, ao analisar “Áporo”, faz o que Drummond recomenda:

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Nelas, também estão mergulhadas as mesas da Flip.