domingo, 11 de dezembro de 2011

Poièsis


Por Rodrigo Novaes de Almeida

Palavras são pequeninas esferas vibrantes formadas na casca da fala. Como Saturno a devorar seus filhos. São pérolas no regaço carnal de uma consorte. Como Saturno a devorar seus filhos. Para fazer-se, desfazer-se e refazer-se o cortejo onírico. Como Saturno a devorar seus filhos. Ou um naco de aspiração diáfano. Nadir do canto e pranto, entram as musas. Nós, as graciosas esferas vibrantes, monumentais estádios etéreos. Nós, substrato. Nós, etos da poesia. Nós que aqui fazemos a vez do coro – obtempera/mento. Dá-Se a poesia. Como Saturno a devorar seus filhos. Canto encantado. Encanto cântico. Encantamento. Como Saturno a devorar seus filhos. Potência cosmogônica a velar-des/velar-re/velar o Ser. Como Saturno a devorar seus filhos. Através de um pátio oco luscofusco. Como Saturno a devorar seus filhos. Resguarda-se o limite sob um domo, aviltamento do chão. Até estar outra vez no recobrimento concreto do mundo. Interstício do ânimo dos ruminantes. Trincadura orgânica do corpo metafísico – Imitatio Dei. Como Saturno a devorar seus filhos.

(Do livro Rapsódias – Primeiras histórias breves, esgotado, 2009)