segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Para o nascimento do personagem


Por Carolina Silvestrini

O início é a construção do céu, depois um agitar qualquer de asas; uma cidade, um país. A restituição de membros e pensamentos àquele que ainda não é senão um esboço de homem até que se torne inteiro – por fim, aplicamos a ele uma palpitação: deixamos que vá.

Observamos com olhos clínicos o homem criado, sem impor a ele limites ou bordas. Entregamos a cidade e o acaso, analisando como se comporta, anotando tudo. Não temos controle sobre a envergadura de suas asas – nem queremos. O que ele fará no universo recém-criado e ainda úmido que lhe demos é precisamente o que deve ser feito; suas decisões, já tão longe de nossas mãos, serão apenas suas, e o papel que ele desempenhar será o que lhe convier, o que lhe fizer sentido e estiver de perfeito acordo entre suas cinco cabeças tristes, seus tantos braços inquietos.

Carolina Silvestrini: pintura abstrata na sala de espera, formada em Cinema pela FAAP. Publicou nas antologias Expresso 600 (Ed. Andross) e Em busca da sabedoria (org. Arnaldo Giraldo), tendo participado também da edição 12 da Revista Offline. Atualmente escreve seu primeiro romance, Estudo de um pássaro. Adepta da literatura subaquática, bloga em O Peixe Solúvel.