quinta-feira, 17 de maio de 2012

Friaca


Por Antonio Fidelis

Frio, sono, vontade de correr. Minha cama gritava desesperada por mim. Meu corpo ansiava por agasalho mais resistente a baixa temperatura. Calafrios, arrepios e o gelo na espinha subiam toda vez que passava uma corrente de ar. Batia os queixos, tremia mais que vara verde. O medo me congelava naquela sombria encruzilhada. Ninguém passava, nem de carro, nem de moto e muito menos a pé. Suspirava estático, inerte a qualquer ação alheia. O desespero tomou conta de mim. Anestesiado com o pavor e o medo persistentes. E o meu ônibus não passava. A neblina caía em forma de bruma, que embaçava toda a minha visão. E o temor crescia exponencialmente, meus órgãos empedravam com tanto frio.

Respirava e tremia, tremia e respirava, e respirava muito. Já sem esperança, cabisbaixo, aceitava o destino, ter uma hipotermia, morrer congelado. Quando um clarão surgiu ao longe, a iluminar a estreita rua em que eu estava. Era um fio da esperança dando-me mais uma chance de vida. Com movimentos curtos, sinalizei. A imensidão de lataria parou na minha frente. Não hesitei. Entrei ainda com o ranger dos dentes, paguei ao cobrador, atravessei a catraca. Sentei. As luzes do ônibus piscaram. O motorista desceu, o frio aumentava e o ônibus quebrou. Azar o meu e sorte da friagem que me possuía.

Antonio Fidelis é formado em Relações Internacionais, mas não atua na área. Leciona na prefeitura de São Paulo para o ensino fundamental e é também ator.