quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Entrevista com Zalinda Cartaxo, autora de 'Pintura e realidade. Realismo arquitetÿnica na pintura figurativa'

1. Como chegou a este tema abordado no Pintura e realidade e a escolha dos dois artistas, a brasileira Adriana Varejão e o português José Lourenço?

Venho pesquisando, especificamente e sistematicamente, a pintura na atualidade desde a realização dos meus doutorados na USP e na UFRJ.  No ano de 2006 publiquei o livro Pintura em distensão, resultado das minhas pesquisas acadêmicas. As relações entre a pintura e a realidade sempre foram estreitas, contudo, acordadas  às questões específicas de cada época. Localizo na atualidade dois focos relevantes na prática da pintura associada à arquitetura: quando ela distende-se para o espaço real de forma interventiva (questão que abordo no primeiro livro) e quando ela retoma sua figuração. Nesta obra, Pintura e realidade, detenho-me na investigação das pinturas que utilizam a imagem da arquitetura como metáfora da nossa realidade, do nosso estar-no-mundo. A retomada da imagem arquitetÿnica na pintura contemporânea, e, consequentemente, da persperctiva de ponto de fuga, revela vontade de recuperação do sujeito. Através dos espaços interiores e intimistas das arquiteturas de Adriana Varejão confronto os espaços externos e públicos das arquiteturas de José Lourenço. Em ambos os casos, os espaços vazios colocam o sujeito-observador como protagonista da obra.

2. Conte-nos um pouco da sua trajetória profissional, e de que forma o doutorado, e, posteriormente, o pós-doutoradoinfluenciaram e influenciam na sua carreira.

Toda minha formação teórica foi motivada pela minha atuação e formação como artista visual. Como artista, meu trabalho está voltado para a reflexão das possibilidades da pintura. A partir do conceito de pintura penso a pintura como conceito. Os doutorados que realizei, ambos em artes, viabilizaram o exercício da conciliação entre o pensamento e a prática, que acredito ser fundamental para todo artista. Como artista e pesquisadora desenvolvi obra (artística e teórica) fundada nos caminhos que a arte tomou a partir dos anos sessenta, quando diluiu todos os limites convencionais das categorias artísticas. A realização do meu pós-doutoramento na Universidade do Porto, em Portugal, colaborou, de certo modo, na compreensão da "ancestralidade" da obra dos dois artis tas: Adriana com seus Azulejões e Lourenço com sua visualidade urbana portuguesa.

3. Quais as dificuldades maiores para a pesquisa? E de que forma se desenvolveu a ligação Brasil-Portugal na sua pesquisa?

 A maior dificuldade estava relacionada à própria viabilidade, i. é., estar in loco, em Portugal. Para tanto, pude contar com o auxílio do CNPq, quando, durante um ano, obtive meios para realizar levantamento bibliográfico e visual necessários para a realização da pesquisa.

4. Qual interesse maior em publicar o livro? Quais as expectativas?

O público alvo, certamente, direciona-se aos artistas, especialmente, aqueles em formação. Também aos pesquisadores que se ocupam deste tema além dos estudantes universitários de cursos diversos (artes visuais, arquitetura, cenografia etc.). Esta pesquisa surgiu, também, da necessidade de contemplar meus alunos na  Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO), tanto na graduação quanto na pó-graduação.

5. Alguma coisa que queira acrescentar? Há novos projetos de pesquisa atualmente?

Gostaria de agradecer à Editora Apicuri e toda sua equipe. Atualmente minhas pesquisas estão concentradas nas relações entre a arte e a arquitetura na contemporaneidade.